segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Parte XI - TEATRO FOLLIES - 1951 - Apogeu



Zilco Ribeiro nasceu em Porto Alegre, onde viveu até os 18 anos. Aos 21 anos ingressou na Força Aérea Brasileira onde conquistou a patente de Capitão Aviador e o apelido devido à elevada estatura, de “Espanador das Nuvens”.

 Atuou como  instrutor de voo até 1949, quando requereu baixa, devido à injusta punição, motivada por um pouso forçado em uma praia do litoral do Espírito Santo.

Iniciou a carreira civil como produtor teatral em 1949, no Teatro Carlos Gomes, situado na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.  
Estreou com a Revista “Quero Ver-Te de Perto” reunindo um elenco de peso, com a participação de Dercy Gonçalves, Oscarito, Renata Fronzi e o coreógrafo dançarino Norbert, seu fiel companheiro e parceiro conjugal.

Terminada a temporada no Teatro Carlos Gomes, Zilco ribeiro transferiu-se para Copacabana, onde passou a residir e ocupar o Teatro Follies a partir de 1951.

 Ao ocupar as dependências do Teatro Follies, Zilco Ribeiro gastou parte das suas reservas com reformas e uma faxina total, que durou alguns meses.

Nesse ano eu atuava como iluminador na Boate Acapulco, no espetáculo “Rapsódia Negra” produzido pelo Abdias Nascimento. Ao final dessa temporada fui procurado pelo secretário (*) de Renata Fronzi e César Ladeira, com os quais trabalhei nas apresentações dos “Cafés Concertos” naquela boate.

(*) O secretário era o “Jaques Perneta”, que foi casado com a filha do Comandante Cândido Aragão do Corpo de Fuzileiros Navais. Em nome do casal, Jaques convidou-me para integrar a equipe, na Companhia de Zilco Ribeiro.




Eu, Casimiro (Manekolopp), era o caçula de 17 anos, o mais novo iluminador do teatro brasileiro.



















Renata Fronzi, diretora e,  também um das protagonistas do espetáculo, contribuiu com sua experiência nessa etapa inicial na trajetória do empresário Zilco Ribeiro



Com participação especial, Renata Fronzi
 interpretava canção, "Ninguém me Ama", autoria de Antônio Maria.






Juan Daniel havia sucateado o teatro, inclusive a rede elétrica, a qual teve que ser refeita e os equipamentos de ar condicionado, cujos compressores tinham desaparecido, restando apenas os dutos de refrigeração.

Zilco Ribeiro não dispunha de grandes recursos financeiros, ele havia gastado boa parcela de suas reservas com a reforma do teatro e apelou para criatividade.


Zilco sugeriu ao seu parceiro, coreógrafo ançarino Norbert, que se encarregasse dos figurinos e da confecção do guarda-roupa, cuja costureira era a experiente Dona Luisa.

Zilco e Norbert dividiram o espaço nobre do apartamento da Av. Atlântica, onde residiam. Ali improvisaram  um atelier de costura e confecção de todo o guarda roupa da peça.





Quanto aos tecidos, eles os obtiveram após uma visita ao empresário Silveirinha, proprietário da Fábrica de Tecidos Bangu e em troca ofereceram a divulgação da Bangu através dos programas distribuídos na platéia.


Uma vez tomadas às providências da restauração, Zilco reinaugurou o teatro em 1952,  com a Revista “Olha o Pixe”.




Renata Fronzi, Nélia Paula, Norbert e Walter D'Ávila, asseguraram o sucesso do espetáculo, cujo elenco incluía outros nomes, como  Paula Silva - Alan Lima - Emílio Castelar - Ruy Cavalcanti e a francesinha Joceline.

A  orquestra era integrada pelos músicos: Maestro Kalua, ao piano - Mario Yabrude, na Bateria - Carlos Alberto, no violão elétrico. 

Três feras com larga experiência no acompanhamento dos espetáculos de revista da época.






 O programa foi diagramado pelo figurinista e ilustrador baiano, Joselito, na época editor responsável da revista de moda, "Vida Doméstica".


Ruy Cavalcante, jovem pernambucano, é também merecedor de nosso destaque.
Uma das grandes revelações da Escola do Teatro Duse e lançado por Zilco Ribeiro.

Guardamos  fortes lembranças de sua brilhante e meteórica carreira, cujos monólogos, adquiriam uma dimensão incomparável e despertavam nas platéias, grande admiração e imensos aplausos. 
Faleceu prematuramente;


Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares.
Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1907, acaba de completar 104 anos.
Ele ocupa há muitos anos, os dois andares superiores do edifício da Av. Atlântica, posto 6.         Diariamente ainda trabalha no seu estúdio de arquitetura.

Zilco Ribeiro e Norbert residiram no oitavo andar até 1966, quando se mudaram para São Paulo


           
1953 - Estreia a Revista

 "MULHERES CHEGUEI"

Minha querida amiga Nélia Paula,  ao lado de Colé Santana, então namorados, e um elenco da maior qualidade:
Norbert, que esbanjava talento polivalente; Anilza Leoni, Pituca, Ruy Cavalcanti, Lafaiete Galvão, a exuberante e bela Eloina.























Estreia a Revista 
"CARROSSEL DE 53"












CONTINUA




        



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Parte X - TEATRO FOLLIES - 1949 - Ascensão




Em 1949, Juan Daniel Ferrer construiu em Copacabana o Teatro Follies e com sua mulher criou sua própria companhia.

Juan Daniel, como se tornou conhecido, era espanhol nascido no ano de 1907, em Barcelona, que emigrou para a Argentina com sua família em 1923.

Em Buenos Aires, ingressou no teatro de revistas, como bailarino e posteriormente tornou-se ator-cantor, que se apresentava de cara pintada e cantava Sonny Boy imitando o famoso cantor negro norte americano, Al Jolson.

Em 1929, Juan Daniel emigrou para o Brasil, onde se casou com a atriz argentina, Maria Irma López, com quem teve dois filhos.

No Brasil, Juan Daniel se apresentou como cantor em diversas emissoras de rádio e mais a frente atuou como cantor e diretor artístico do Cassino Atlântico.
Em 1946, o governo Dutra fechou os cassinos e Juan Daniel, desempregado, passa a atuar em circos, em seguida no Teatro Jardel, numa revista ao lado de Mara Rúbia e Renata Fronzi.

Juan Daniel apreciava um carteado e com frequência se reunia com um grupo de parceiros para arriscar a sorte no jogo. Foi quando conheceu  Leopoldo Augusto da Silveira Franca, um dos parceiros de jogo e proprietária da loja situada no andar térreo do Edifício Safira, na Av. Copacabana 1246. Juan Daniel propôs-lhe uma parceria para a instalação de um teatro no referido imóvel, ele imediatamente aceitou e logo iniciaram as obras necessárias para adaptação.

Com o apoio financeiro de Leopoldo, Juan Daniel contratou os melhores profissionais da época, os quais se encarregaram de suprir o novo teatro com cerca de trezentas confortáveis poltronas, um pequeno palco e uma cabine de comando elétrico das luzes de cena.

No subsolo, situavam-se os camarins, onde se acomodavam os atores, os quais durante as horas de apresentação, vez por outra eram surpreendidos por inesperada inundação que transbordava pelos ralos.

O subsolo do edifício Safira dispunha de uma única caixa receptora dos esgotos de todo o prédio, cujas águas e detritos eram recalcados por uma bomba elétrica para a rede de esgotos da rua. 


 Uma operação que não podia falhar, mas que o esperto Almeida, administrador do prédio, propositalmente provocava a pane e se beneficiava com as gratificações e forjadas notas fiscais frias, correspondentes à prestação de serviços; isto é, o Almeida criava dificuldades, para vender facilidades. 


O desconforto era tamanho, que todos tínhamos que caminhar sobre tábuas distribuídas por todo o trajeto entre os camarins e o palco, agravado pelos odores fétidos da merda flutuante.


Apesar das inconveniências apresentadas, as instalações do novo Teatro Follies eram superiores aos demais teatros de bolso existentes na zona sul do Rio de Janeiro.

Em 1950,  o Teatro Follies anunciava na sua fachada, com legendas  em diferentes cores, feericamente iluminadas pela luz do neon, a estréia da exótica dançarina Luz Del Fuego.
 Luz Del Fuego estudou na Europa, de volta ao país, provoca a revolução nos costumes e, Juan Daniel convida-a para inaugurar o teatro.

Com suas apresentações de dança, na época, ela era a grande atração, graças à curiosidade despertada no público, o qual superlotava diariamente o teatro.
Ela foi a primeira naturista do país, nasceu em 1917, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, estado do Espírito Santo.

Em 1967, quando solitariamente habitava a Ilha do Sol,  Luz Del Fuego e seu caseiro foram barbaramente assassinados por dois pescadores assaltantes, seus corpos foram amarrados em pedras e lançados ao mar.

Cabe lembrar, que nas décadas de 1940/1960, não havia patrocinadores, os teatros dependiam exclusivamente da venda dos ingressos das apresentações  que ocorriam diariamente com duas seções as terças, quartas e sextas-feiras, nos horários de 20h às 22h e 22h à 00h.  Às Quintas, sábados e domingos ocorriam as matinês das 16 às 18 horas. Segunda-feira era  o dia de folga dos atores, assim, à noite ocupavam todas as mesas dos Restaurantes da Rua Pedro I, na Praça Tiradentes e, a partir de 1957, o “La Fiorentina”, do Leme.

Juan Daniel revelou-se um parceiro pouco confiável  e  Leopoldo designou  seu genro, o Tenente Antônio Carreira, para representá-lo na fiscalização da bilheteria, que por sua vez admitiu a bilheteira Helena, a qual era de sua total confiança.

O Tenente Antônio Carreira, que se tornou meu amigo, até hoje se comove ao relembrar os velhos tempos.

Ele possui todo um passado, cuja história pretendo relatar mais adiante.

Como jovem tenente, era um idealista e admirador de Carlos Lacerda, como tal integrou o grupo da famosa República do Galeão e, após o Golpe de 1964, tornou-se um dos mais importantes empresários da indústria de telecomunicações do país.

Antônio Carreira fundou a "INDUCO" e nesse derradeiro empreendimento teve como colaboradores imediatos os correligionários, companheiros de farda e de aventuras, Veloso e Lameirão. Reúnem os três um histórico que os remete à uma das tentativas de golpe no governo de Juscelino.
 Foram eles os autores do primeiro sequestro de um avião da Panair, desviado em 1956, do Rio de Janeiro  para Jacareacanga, Estado do Pará.



Elvira Pagã, cujo verdadeiro nome era, Elvira Cozzolino,  nasceu em 1920,  na cidade de Itararé, São Paulo, era paulista de nascimento e carioca por adoção. Faleceu no Rio de Janeiro, em 2003.

Junto com Luz Del Fuego, ela Integrou o elenco da “Companhia Juan Daniel”, no Teatro Follies.


Elvira Pagã era um mito sexual, como estrela do teatro de revista disputava a liderança com Luz Del Fuego.



Em 1950, Elvira lançou o biquíni na praia de Copacabana e foi eleita como a primeira Rainha do Carnaval carioca.

No Natal desse mesmo ano,  posou nua para uma foto e enviou-a  como cartão de boas-festas para os amigos e demais personalidades da época.



Elvira Pagão e Luz Del Fuego, seguramente foram as principais estrelas capazes de mobilizar platéias advindas dos mais longínquos bairros do subúrbio do Rio de Janeiro e outras plagas deste país. Foram ambas as principais responsáveis pelo sucesso financeiro do empresário Juan Daniel, que perdurou até  fins do ano de 1951.

Nesse ano, Juan Daniel, que era um mau pagador,  acabou sendo expulso do Teatro pelo então,  proprietário do imóvel,  Tenente Antônio Carreira. 

Desistiu de ser  empresário e ingressou na TV, onde integrou como produtor na equipe do Boni, o José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. 

Zilco Ribeiro foi o novo parceiro de Antônio Carreira, desta vez  um colega de farda,  um ex-piloto,  instrutor de vôo da FAB,  que acabara de ingressar no teatro como o mais novo empresário. Uma história que nos deteremos em capítulo próximo. 

AGUARDEM!


Parte IX - TEATRO DE BOLSO - Ipanema





José  Silveira Sampaio fundou, em 1947, o Teatro do Leme, situado na Avenida Atlântica, em Copacabana.
Nesse local fez algumas apresentações de suas peças, porém permaneceu por pouco tempo e logo se transferiu para Ipanema, onde fundou o  Teatro de Bolso.

No Teatro do Leme eu atuei como iluminador e tive a oportunidade de conviver com alguns atores ilustres, entre os quais: de saudosas lembranças, Paulo Francis e Napoleão Muniz  Freire e outras destacadas personalidades do teatro carioca.



Silveira Sampaio inaugurou em 1948, o Teatro de Bolso e estreou com a peça de sua autoria "A vida imita a arte".

O teatro situava-se na  Praça General Osório, na Rua Jangadeiros nº 28, uma pequena loja adaptada, onde  os camarins situavam-se no subsolo.

Num estilo bem carioca, começou a encenar suas próprias peças e obteve grande sucesso:

“Da Necessidade de ser Polígamo” - 1949
“Garçonnière do Meu Marido” - 1949
“Deu Freud Contra” -1953

Uma sofisticada trilogia de comédias cuja temática era marcada pela sátira à psicanálise, sobretudo em “Deu Freud Contra”. Freud era o tema da moda e ótimo gancho que Silveira Sampaio bem soube aproveitar.

Praça Gral. Osório - Rua Jangadeiros - Ipanema
À esquerda no  nº 28,  local onde existiu o Teatro de Bolso,
hoje funciona um restaurante.

Eis as demais peças apresentadas por Silveira Sampaio no Teatro de Bolso, entre os anos de 1948/1952:

1948 - Peça: "A inconveniência de ser esposa"
1948 - Peça: "Um homem magro entra em cena"
1949 - Peça: "Paz entre os bichos de boa vontade"
1950 - Peça: "O Impacto"
1950 - Peça: "Só o Faraó tem alma"
1951 - Peça: "Flagrantes do Rio n.º 1"
1951 - Peça: "Triângulo Escaleno"
1952 - Peça: "Flagrantes do Rio, n.º 2"

A partir de 1954 afastou-se do teatro e ingressou na TV.
Silveira Sampaio nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1914 e faleceu em 1964.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Parte VIII - TEATRO JARDEL - Copacabana


1948 - Primeiro teatro de bolso fundado em Copacabana. Geysa Bôscoli foi pioneiro ao fundar em 1948 o primeiro teatro de bolso, o “Teatro Jardel”, situado na Av. N. S. de Copacabana, esquina com a Rua Bolívar.


O teatro era muito pequeno, os artistas não dispunham de acomodações adequadas, transitavam pela marquise entre os apertados camarins e o palco.
Desse modo uma segunda platéia assistia ao desfile de todo o elenco sobre a improvisada passarela.
Por lá transitavam todas as noites, as mais atraentes mulheres do teatro de revista da época.
Um espetáculo alternativo, que atraía principalmente a rapaziada sem poder de compra para o ingresso.

Em 1949, Geysa Bôscoli transferiu-se para o posto seis da Av. Atlântica (número 3680), onde o seu novo Teatro Jardel teve curta existência.

Durante onze anos (1948/1959), Geysa Bôscoli soube atrair o grande público da época, apresentando com brilhantismo, espetáculos de revistas musicais, comédias e teatro infantil.

Nas inúmeras apresentações de espetáculos de revistas, apresentaram-se no palco do Teatro Jardel de Copacabana, as mais destacadas estrelas e atores da época, entre os quais, Colé Santana, Costinha, Badaró, Silva Filho, Juan Daniel, Evilásio Marçal, Silveirinha, Dedé Santana, Carlos Gil, Mara Rúbia, Renata Fronzi, Rose Rondelli, Ana Rosa, Wilza Carla e muitos outros.

Entre os espetáculos de comédia apresentados em 1954 no Teatro Jardel, destacamos o “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Peça teatral onde o Agildo Ribeiro era o ator principal, interpretando o personagem João Grilo. Era um elenco constituído por jovens atores: Consuelo Leandro, Haroldo Costa e outros.

Nessa época os teatros lotavam diariamente as platéias, eram duas seções as terças e quartas- feiras; as quintas, sábados e domingos eram três apresentações (16h às 18h, 20h às 22 e 22h à meia noite).
Não dependiam de patrocínio como hoje, o sucesso financeiro era garantido pela bilheteria.
A televisão alterou os hábitos e acomodou as pessoas dentro de casa.
No horário de 14h às 16h, sempre aos domingos, o Teatro Jardel apresentava peças infantis que faziam sucesso, atraindo grande público entre adultos e crianças.
Geysa Gonzaga de Bôscoli era um advogado que a partir de 1927 dedicou-se inteiramente a criação de roteiros e letras musicais voltadas, sobretudo, para o teatro revista. Ele integra a dinastia de importantes nomes, sobrinho de Chiquinha Gonzaga, irmão de Jardel Jércolis e Héber de Bôscoli, pai do ator Jardel Filho e tio do músico arranjador Ronaldo Bôscoli,  pai de Marcelo Bôscoli. .
Estreou no teatro em 1927 com a revista "Pó-de-arroz", na Companhia de revistas Tro-lo-ló.
Geysa Gonzaga de Bôscoli nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1907, e faleceu em 1978, Caxambu - MG.

DINASTIA BÔSCOLI



























ASTROS & ESTRELAS 
TEATRO JARDEL - 1948/1959
´




Merece destaque a  vedete Joana D'Arc, atuou como estrela  no Teatro Jardel, nas Revistas:

"Você que é feliz Primo" 
"Que espeto seu Felispeto"
"Mulheres na Praça"

Foram estas as dicas que nos forneceu seu filho, David Barata, a quem  deixo  o meu agradecimento pela colaboração prestada. 







Agildo Ribeiro e Consuelo Leandro
"Auto da compadecida"
Teatro Jardel - 1955



terça-feira, 15 de novembro de 2011

Parte - VII - Teatro Experimental do Negro




Léa Lucas Garcia de Aguiar

Léa Garcia nasceu no Rio de Janeiro em 1933 e aos 16 anos ingressou no Teatro Experimental do Negro, quando conheceu Abdias do Nascimento, com quem se casou e tiveram dois filhos.
Estreou como atriz em 1952, no musical "Rapsódia Negra",  roteiro escrito e dirigido por Abdias Nascimento. As apresentações desse  musical ocorreram no palco da luxuosa Boate Acapulco de Copacabana, onde eu atuava como iluminador contratado,  desde as apresentações  dos "Cafés Concertos" dirigidas por Renata Fronzi e Cezar Ladeira.
A partir de então, Léa Garcia se apresentou com desenvoltura e talento em diferentes palcos brasileiros e no exterior.
Brilhou também diante das câmaras da TV, no Cinema estreou  em 1959 com "Orfeu da Conceição", o qual foi contemplado com o prêmio do "Oscar" como melhor filme estrangeiro.
Em 1960 Léa Garcia obteve a segunda colocação no Festival de Cinema de Cannes.
Em 2004, por sua atuação em "Filhas do Vento",  Léa Garcia foi premiada com o "Kikito" como melhor atriz, dirigido por Joel Zito Araújo.







Manoel Claudiano Filho
Merece destaque o talentoso e polivalente artista, Claudiano Zani, que frequentou a Escola de Arte Dramática do Rio de Janeiro e atuou no elenco do Teatro Experimental do Negro,  no musical “Rapsódia Negra”.  Era o ano de 1952 quando na boate Acapulco, em Copacabana, o musical se apresentou  num espetáculo de grande gala, cujo sucesso enriqueceu as noitadas de Copacabana.
Claudiano Zani cantava,  interpretava danças folclóricas brasileiras e também sapateava.
Sua personalidade sempre me chamou atenção, demonstrava sensibilidade e cultura à flor da pele, conversávamos frequentemente e trocávamos ideias. Ele era um entusiasta pelas lutas contra o racismo; simultaneamente manifestava profundo interesse pela doutrina espírita e não escondia sua natureza mediúnica. Eu também não escondia meu interesse pelas ideias marxistas, cujas obras eu trazia  sempre  comigo algum exemplar.
Em 1950 nos reencontramos no Teatro Rival, numa apresentação na peça “Dona Xepa”, um dos maiores sucessos do teatro no Rio de Janeiro, dirigida por Mario Brasini, de autoria do Pedro Bloch e protagonizada pela maior atriz comediante dessa época, Alda Garrido.
Claudiano não se conformava com o preconceito da época. Abdias, Ruth de Souza, Claudiano e Marina Gonçalves, tinham sido im­pedidos de participar do Baile dos Artistas, no Hotel Glória, por serem negros; em São Paulo, a dançarina e atriz norte-americana,  Kathe­rine Dunham, fora barrada no Hotel Esplanada.
Diante de tais fatos, decidiu que não continuaria a viver no Brasil e foi incentivado por sua companheira Júlia, que era de nacionalidade belga. Esta o apresentou a primeira dama do país,  Sarah Kubitschek e, conseguiu para ele uma bolsa de estudos na Europa para estudar mímica com Marcel Marceau em Paris.
Embarcou  de navio em 1956  rumo a Paris, logo se integrou ao grupo de artistas que se apresentava a bordo.
Por conta dessa bolsa de estudos, durante seis anos se mantinha com os ganhos obtidos com suas apresentações entre idas e vindas à Alemanha, Bélgica, Holanda e Inglaterra, quando fazia parte da “Companhia Brasiliana".
Manuel  Claudiano Filho, na Itália trocou o sobrenome de Filho para Zani, uma forma de reconhecimento  ao casal que o apoiou em Milão,  Anna Lamonica  Zani  e  Alfredo Lamonica.


Entrevista  com Manuel Claudiano Zani

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Parte - VI - Teatro Experimental do Negro

MERCEDES BAPTISTA 
 Estrela Máxima da Dança no Brasil

Mercedes Ignácia da Silva Krieger - 1921


Mercedes Ignácia da Silva Krieger, Mercedes Baptista, nasceu em 1921, no município de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro.
De origem humilde, ainda jovem, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde inicialmente trabalhou como empregada doméstica, posteriormente  numa gráfica e em seguida, e numa fábrica de chapéus.

Mercedes Baptista, também trabalhou como bilheteira de cinema; nesse período se impressionou com os filmes que assistia, os quais a motivaram para a dança.

Eros Volúsia - Musical em 1937

Ao início de 1940, Mercedes Baptista  iniciou seu projeto com a famosa bailarina de clássico e dança folclórica,  Eros Volúsia.


Eros Volúzia Machado - 1914 - 2004

Ingressou na Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde aprimorou sua arte com os principais mestres da época: Yuco Lindberg e Vaslav Veltchek.
Em 1947, Mercedes Baptista foi admitida como bailarina profissional no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se assim a primeira mulher negra a ingressar como bailarina nesta casa de espetáculos.

Durante essa sua nova fase, Mercedes Baptista percebeu o preconceito racial que predominava no teatro, já que poucas vezes era solicitada para as apresentações no palco.

Mercedes Baptista e Valter Ribeiro 
Gafieira Estudantina Musical -  RJ - 1960

Não conformada com o preconceito que imperava na época, Mercedes Baptista amadureceu sua consciência política e se engajou no principal movimento de luta contra o preconceito e o racismo; ingressou para o grupo do TEN - Teatro Experimental do Negro, liderado por Abdias Nascimento.

Em 1948, Mercedes Baptista foi eleita a Rainha das Mulatas e, em 1950, ingressou no Conselho de Mulheres Negras.
Maria Katherine Dunham - 1909 - 2006

Katherine Dunham,  dançarina americana, coreógrafa, compositora, autora, educadora e ativista na luta contra o racismo, era reconhecida mundialmente como:
 "Mãe - Rainha - Matriarca da Dança Negra". 
Mercedes Baptista, em 1950, foi convidada por Katherine Dunham e conquistou  uma bolsa de estudos em Nova York. De volta ao Rio de Janeiro, fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, um elenco formado exclusivamente por bailarinos negros, dedicados à divulgação da cultura afro-brasileira. O Grupo conquistou  notoriedade quando  se apresentaram em turnês pelos quatro cantos do mundo.
Com o prestígio conquistado, Mercedes Baptista introduziu como disciplina a dança afro-brasileira, na Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
A partir de 1960, Mercedes Baptista, foi responsável pela coreografia do desfile de escolas de samba, estreou com os Acadêmicos do Salgueiro, para o tema "O Quilombo dos Palmares".
Mercedes Baptista coreografou para cinema, televisão e teatro; ministrou  cursos em Nova York e na Califórnia. 
Mercedes Baptista - em 2010 

Em 2007 foi lançado o livro "Mercedes Baptista" -a criação da identidade negra na dança -, de autoria de Paulo Melgaço da Silva Júnior, publicado pela Fundação Cultural Palmares.


A Companhia de Dança Afro, de Marlene Silva - 1987 - Teatro João Caetano - RJ
 Apresentou  "Raízes Africanas".
 Mercedes Baptista coreografou e dirigiu essa apresentação.